terça-feira, 4 de setembro de 2007

Desejos loucos. [Ricardo Gondim].

Tenho uma vontade louca de desatar os nós que amarram as tendas do campo de exilados; e junto com eles, caminhar até a vila onde viveram seus ancestrais.

Tenho uma vontade louca de lavar os pés da missionária que cuida dos leprosos na Amazônia. Ela consegue ver no fundo de olhos tristes, a face do Galileu.

Tenho uma vontade louca de embalar aquele menino que dorme todas as noites no orfanato e espera que, pela amanhã, alguém o chame de “Meu filho”.

Tenho uma vontade louca de abrir todas as gaiolas e soltar canários, graúnas e sabiás. Por mim, não existiriam zoológicos com leões tristes e tigres obesos.

Tenho uma vontade louca de premiar todos os professores com salvas de ouro. Eu compraria um megafone gigante e diria para o mundo inteiro que devemos inscrever o nome de nossos mestres no "Panteão da Honra Eterna".

Tenho uma vontade louca de fazer a seguinte oração: “Deus, não deixe o Beethoven ficar surdo, o Garrincha morrer bêbado, o Van Gogh se suicidar, o Nat King Cole adoecer com câncer, o Martin Luther King ser assassinado, o Jorge Luis Borges ficar cego, o Nelson Mandela envelhecer... “.

Tenho uma vontade louca de acabar com passaportes e vistos de entrada. Eu demoliria os muros das fronteiras e não haveria mais cidadãos ilegais; pessoas humilhadas e obrigadas a trabalhar por um salário menor.

Tenho uma vontade louca de nunca ter que ouvir que uma floresta incendiou; no rio, peixes morreram asfixiados; uma espécie foi extinta; uma geleira derreteu; um coral se acabou.

Tenho uma vontade louca de ter muitos recursos para montar orquestras, academias de balé, bibliotecas em Braile, escolas na linguagem dos surdos e asilos para velhos não precisarem mendigar o pão.

Tenho uma vontade louca de conhecer uma Cidade onde tudo isso possa acontecer. Essa Cidade é desejo e tem nome: Paraíso; desejo que não é saudade, mas esperança.

Soli Deo Gloria.

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